segunda-feira, 26 de maio de 2014

Os Fantasmas do músico

Os fantasmas do músico
Nubor Orlando Facure

Seo Arnaldo entrou no consultório vestido com elegância sóbria, bem cuidada. Como de costume, inicio minha conversa tentando conhecer os dados pessoais e familiares do paciente. Ele estava ali com sua filha, de aparência nobre, colaborativa esboçando certa preocupação com as respostas do pai.
Ele era músico, trabalhou na Sinfônica até sua aposentadoria ha 3 anos atrás. Morava só com a esposa recebendo visitas frequentes da filha que estava ciente das queixas que ele passou a relatar-me.
Para curtir a solidão da aposentadoria ele assenta a tardinha no piano da sala e passa ali tocando o instrumento até que chegue o horário de assistir o noticiário da televisão.
Foi nessa sala dedilhando seu piano que começa o drama que me relatou calmamente. Ainda havia a luz da tarde quando percebeu que tinha “alguém” na sua janela o observando. Como a visão foi muito rápida ele se refez do susto e não deu maior importância ao fato. Porém, nos dias subsequentes, a imagem de um homem o observava tocar piano por alguns instantes. Ele resolve ir até a janela mas, constata que não havia ninguém por lá. A coisa foi piorando, começa a aparecer mais de uma pessoa, homens, mulheres, uma duas ou até três pessoas ali assistindo o músico ao piano. Ele pesquisa melhor, vai ao quintal examinar se haveria alguém escondido embaixo da janela.
Semanas depois as imagens permaneciam de tal forma constantes que ele continuava tocando o piano sem dar maior importância a elas. De repente nota que os figurantes que o assistiam, estavam mais arrojados, passaram a ficar do lado dele próximo ao piano.
Dias depois ele se apavora com imagens estranhas, bizarras, mas,  nítidas, eram seres pequenos, sobre seu piano, anãozinhos que quando ele fixa o olhar, entram no seu copo ou na garrafa de agua que costumava deixar ali. Esses seres minúsculos são denominados Lilliputianos pela semelhança aos que são descritos nos contos de Gulliver na terra dos Lilliput.
Certa noite, nosso músico acorda de madrugada e vê descer do teto até sua cama vários dos “amiguinhos” que o seguiam na sala de piano – foi por isso que ele me procurou para consulta – se da sala foram para o seu quarto, onde iam parar esses homenzinhos, que cada vez mais afrontavam sua intimidade.
O quadro desse músico foi descrito por um naturalista e filósofo suíço – Charles Bonnet que o observou no seu avô e ironicamente ele mesmo, mais tarde,  veio a sofrer dessas alucinações – Charles Bonnet escreveu: “Ensaio analítico sobre as Faculdades da Alma” em 1760 – nesse trabalho ele, acertadamente, atribuiu essas alucinações a doenças dos olhos (miopia, catarata, doenças na mácula ou na retina). 

A filha do Seo Arnaldo sentiu-se aliviada quando lhe garanti que não era doença de Alzheimer ou esquizofrenia que sofria o seu pai

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