terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

O macaco mais famoso da Neurocirurgia


O macaco mais famoso da Neurocirurgia
Nubor Orlando Facure


Era 1964 no Congresso de Neurocirurgia em Belo Horizonte. Não ha como não gostar e se familiarizar com os mineiros de BH.  E, o Presidente do Congresso, mineiro de fino trato, fazia parte, também, do nobilíssimo Staff de neurocirurgiões da Universidade de Chicago – diziam que era sócio do Chefe do Departamento, por isso ele trouxe para a Conferência Magna o Dr Paul Bucy. Vendo-o de perto, atarracadinho, baixo, uma cabeça grande, que me perdoe tê-lo achado parecido com o português de muitas padarias que já frequentei – exceto por aquele ar de nobreza que transparece em toda suas fotografias.
Preciso antes retroceder no tempo
Lá por 1938 o Professor Heinrich Kluver na Un. de Chicago estudava a cognição visual em macacos – o que e como eles veem as coisas.
Um fato comum dessa época, permitia o Prof. Kluver ser vidrado em Mescalina e, ele mesmo testava em si próprio para observar os seus efeitos alucinógenos – na sua interpretação essas alucinações lembravam muito a “aura” dos  pacientes epilépticos – episódios visuais, auditivos ou afetivos, que ocorrem por descargas de neurônios do lobo temporal. O Prof. Kluver contratou, então,  para trabalhar  na Universidade de Chicago um Neurocirurgião, no caso o Dr. Paul Bucy, aquele mesmo que fui conhecer em Belo Horizonte – e, assim, foram retirados os dois lobos temporais de vários macacos – hoje eles seriam presos pela Sociedade protetora de animais
O curioso é que sob a ação da Mescalina o comportamento dos macacos foi o mesmo, porém, Kuver e Bucy notaram um padrão de respostas e comportamentos que se repetia em todos macacos operados – foi descrita, então, a famosa síndrome de Kluver e Bucy – uma cegueira psíquica, não percebem mais o significado do objeto que vê, hiperfagia, levam tudo à boca para comer, reações excessiva aos estímulo visuais o que os torna arredios e assustados, perdem a capacidade de exibir raiva ou medo, mesmo diante de uma cobra que deveria representar uma grande ameaça para eles,  comportamento sexual promíscuo e extravagante e consomem carne abundantemente.

Um novo salto no tempo
Chefiei uma UTI de Neurocirurgia por 30 anos – internávamos pacientes com trauma de crânio, trauma de parto, anóxia cerebral, que, eventualmente, apresentavam algum componente da Síndrome de Kluver-Bucy – atendemos uma garota extremamente agressiva, que não nos permitia qualquer aproximação física, andava pelo chão arrastando sua genitália que esfregava em qualquer objeto que encontrava no solo. Outro, também violento, vítima de TCE, era amarrado ao leito porque mordia e arrancava pedaços de sua própria carne, do polegar e do ombro.  Como me ensina minha filha bióloga, nós não somos descendentes de macacos, nós ainda somos macacos e, sempre mostrei aos meus alunos que mesmo famosos professores da Unicamp quando vítimas de traumatismo no lobo temporal, também se agitam, blasfemam, agridem e passam a mão, inconvenientemente,  nas enfermeiras.

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