domingo, 3 de fevereiro de 2013

A ponta do Iceberg


A ponta do Iceberg 
Nubor Orlando Facure

Essa é uma imagem surrada mas, permanece expressiva para nossa ilustração: quase sempre nos atemos à superfície dos fatos
Minha esposa acamada me obriga a fazer as compras caseiras – fui mimado em 48 anos de casamento e hoje constato minha bisonha incompetência.
Acho até estranho o termo monogamia, não vivo sem a Lourdes, a Kátia, a Lúcia, a Andréia, a Dora, a Cida, a Ivone e outras tantas dessa constelação de estrelas brilhantes.
Ali no açougue eu peço patinho e o garoto do balcão pesa e embrulha a ponta da posta de carne, fiz menção de reclamar ele diz que era porque estava começando a peça agora.
Peço 5 litros de leite A e só em casa me demonstram o vexame de ter trazido dois litros errados, um vencido e outro era leite B – me coro de vergonha, mas, justifico que o vendedor foi gentil comigo.
Comprei abacate e manga que visto por fora estavam lindos. Em casa me ensinaram que fruta que congela e descongela apodrece por dentro. Fico cada vez menor, até meu corpo parece encolher de vergonha

E o que tem isso a ver com a Boate de Santa Maria e a Eleição do Renan Calheiros?

É fácil entender o que quero mostrar:
Se o menino do açougue, o vendedor do leite ou o moço da frutaria estivessem na Presidência do Senado ou focem eles os proprietários da Boate de Santa Maria a corrupção, a desonestidade, irresponsabilidade, a permissividade, o interesse monetário seriam exatamente os mesmos.

É isso que me faz chorar de pena por esse Brasil abençoado e podre. Mil vozes se levantam condenando os culpados, intensificando a fiscalização que parece ser a mesma que recomeça em todas tragédias desse país. Choramos o nossos mortos na madeira dos caixões, postamos mensagens sentimentais no Face, marcamos passeatas de solidariedade, acendemos velas, esparramamos flores, iniciamos mais um milhão de assinaturas para tirar o Renan.

Mas, e aqueles milhões de vendedores e negociantes que teremos de enfrentar, os milhares de hospitais incompetentes e médicos faltosos que vão nos atender, a inércia das repartições públicas, as multas, os atestados, as liminares, os recursos para adiarmos as condenações, a indiferença com a morte brutal no trânsito, a permissividade dos nossos Juízes que liberam presos sem medir seus riscos e as prisões lotadas onde a promiscuidade ensina um holocausto às avessas

Nós brasileiros precisamos de um choque de consciência – somos todos culpados. Longe de mim estar aqui fazendo uma condenação, mas, fomos nós, com a nossa cultura do jeitinho e da aprovação quando se trata de favorecer a nós mesmos, de pedir ao funcionário para quebrar um galho para mim, que permitimos inconscequentemente, crescerem as chamas desse inferno que hoje consome a nós e a nossos filhos – fica a pergunta: onde estamos errando e no que podemos melhorar um por um de nós todos, a cada gesto, a cada atitude com nosso próximo ?


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