sábado, 7 de fevereiro de 2009

Entrevista
Dezembro de 2008
Reporter - Diego Ramos

Que relação e vínculos o Sr encontra entre ser médico, ser espírita e também ser médico espírita? O é que é melhor, falar de espírita médico?
Essa pergunta exige que eu faça um pequeno relato autobiográfico. Meus pais me conduziram para a Doutrina Espírita quando completei sete anos de idade. Sou natural de Uberaba, MG, onde convivi com Dr. Inácio Ferreira e a médium Maria Modesto Cravo, diretores do Sanatório Espírita de Uberaba. Quando completava 18 anos acompanhei a vinda para nossa cidade do médium Francisco Cândido Xavier. Creio que esses contatos me fortaleceram no conhecimento e na prática espírita. Sou Médico pela Faculdade de Medicina da minha cidade, mas, minha vida acadêmica foi exercida na UNICAMP em Campinas, S.P. onde completei 44 anos de Neurocirurgia. Fica fácil compreender o porque da minha opção pelo “espírita médico”. Sem pieguice, sem religiosidade fanática, sem qualquer liturgia, estou comprometido apenas com o sofrimento dos que me procuram como médico e de quem vão ouvir um apelo à transformação íntima, ao crescimento espiritual, um apelo à solidariedade, ao esquecimento das ofensas, um apelo para superar as dificuldades da doença aproveitando as lições que ela oferece. Aprendemos que a doença é o princípio da cura. As limitações no corpo evitam descontroles no Espírito. Não proponho suportar o sofrimento para nos eleger como santos, mas, para superar as deficiências e continuar a aprender. Descobrir o talento que em cada um de nós a Misericórdia Divina favorece. Quem não anda, pode falar e a fala edifica, quem não enxerga, pode ouvir e quem ouve consola. Quando a esquizofrenia perturba a mente é hora de disciplinar o Espírito com mais horas no trabalho simples. Quando a depressão nos corroi por dentro, mobilizamos forças para atender as necessidades dos outros. Quem si deprime perde muito tempo pensando em si. Ao iniciar minhas consultas eu sempre alerto aos meus pacientes que meu propósito não será tratar das suas doenças, mas da sua própria pessoa, daí minha necessidade de conhecê-lo por inteiro e questioná-lo em seus problemas físicos, psicológicos e espirituais.


Que é o que você acha dos casos de cirurgia astral e cirurgiões asarais como o Zé Arigó ou a desaparecida Pachita, a médium mexicana? Eles ate eram capazes de materializar. Que é o que opina deles?
Essa pergunta é muito oportuna. Quero, porém, que todos compreendam minha resposta como opinião pessoal, portanto com as deficiências da minha própria interpretação. Primeiro vamos comparar a cirurgia humana com a cirurgia espiritual. O Espiritismo não se propõe a substituir a Medicina humana. A cura que se obtêm na carne não garante a cura do Espírito, nem soluciona seus débitos com a Providência Divina. Sem o resgate da culpa, sem a redenção espiritual, sem a transformação interior, sem a predisposição para melhorar só estaremos adiando compromissos ou trocando a forma de sofrer. Sou neurocirurgião e, no atual estágio da Medicina humana, eu sempre optaria por uma cirurgia num bom hospital com um médico competente. Por outro lado, pessoalmente, vejo qualquer procedimento cirúrgico, como uma agressão ao corpo. Isso eu sempre ensinei aos meus alunos e, o progresso médico está, cada vez mais, reduzindo a extensão dos procedimentos cirúrgicos. Novas técnicas estão se aprimorando para substituir a necessidade de cirurgia. No domínio das “cirurgias espirituais” minha percepção é de uma intervenção que deve ser mobilizada como uma “alternativa da Medicina”, não como uma “substituição da medicina”. A minha condenação é para o uso de instrumentos cortantes ou aplicações de substâncias por injeções desnecessárias, como fazem alguns médiuns. Na minha percepção, os atuais médiuns de cura pela cirurgia espiritual, vão contar num futuro breve, com a assistência médica que disciplinará suas forças, assim como uma usina elétrica direciona as forças da queda das d’águas.
E do João de Deus, que poderia dizer dele e do seu trabalho?
Só o conheço pela mídia. Seria leviandade da minha parte, opinar sobre seu trabalho que não conheço de perto. Entretanto, impressiona-me a presença de tanta gente e que por tantos anos o aceita e o procura para seu tratamento. Nenhum médico manteria tal clientela se não obtivesse o sucesso de curas que ele está produzindo. Imagino que, não só ele, mas toda a multidão que o procura, deve estar mobilizando uma densidade fluídica extraordinária que a “espiritualidade” ali presente, deve aproveitar para modificar o padrão vibratório dos que freqüentam aquele ambiente. O que quero dizer é que, enquanto no plano físico enxergamos um determinado tipo de atividade, as vezes chocante e até mesmo agressiva, no “plano espiritual” deve ocorrer uma mobilização gigantesca de Espíritos, tanto os necessitados de tratamento, como os operários da solidariedade espiritual que aproveitam esses encontros para encaminhamentos espirituais necessários.
O Espiritismo, desde o seu começo se mostrou como um tipo de conhecimento positivista, científico. Que tem acontecido com o Sr dentro dos planos acadêmicos da medicina com a sua identidade como espírita.
Essa pergunta merece três colocações interessantes. Primeiro minha própria atividade acadêmica com médico espírita, segundo a contribuição científica espírita para a Medicina e terceiro, a Espiritualidade que agora está sendo introduzida nas Faculdades de Medicina.
Minha vida acadêmica – iniciei-me como professor de neurocirurgia em 1966, percorrendo todos os graus de titulação acadêmica na UNCAMP, universidade de renome em nosso país. Em 1983 essa Universidade iniciou seus cursos de pós-graduação e, desde essa época, ministrei dois cursos anuais, um de Neurocirurgia e outro de “Cérebro e Mente”. Nesse último tivemos oportunidade de discutir, com diversos professores convidados, temas interessantíssimos sobre a Alma e a Espiritualidade. É claro que, ao lado de uma aceitação espetacular, tivemos a contrariedade da rejeição por parte de muitos colegas. Tenho a consciência de que fui pioneiro nessa área, e hoje em dia, a discussão sobre a dualidade “cérebro mente” se estendeu pelo mundo todo, embora ainda prevaleça a distorção da visão materialista que predomina entre os médicos.
A contribuição do “paradigma espírita” para a Medicina, a meu ver, é extremamente abrangente. Ele considera o ser humano como possuidor de um corpo físico, um “corpo espiritual” e uma Alma de onde procedem suas capacidades intelectuais e morais. Essa Alma é imortal e durante toda eternidade estará nascendo e renascendo sem condenações eternas, para progredir infinitamente em sabedoria e bondade. Estamos todos mergulhados num “fluido cósmico” que serve de meio para a criação do mundo material, do mundo espiritual e da comunicação entre os dois mundos. Uma vez fora do corpo físico que a morte um dia nos lançará, encontraremos os Espíritos que nos precederam e a quem permanecemos ligados. Esses Espíritos desencarnados, em grande parte, permanecem mais ou menos próximos de nós, auxiliando em nossas necessidades ou, pelo contrário, perturbando-nos ou induzindo-nos a desvios comprometedores do nosso destino.
A Espiritualidade agora já faz parte do currículo de várias Instituições Universitárias. O que isso significa? Os médicos de modo geral sempre levaram em conta a Fé de seus pacientes, mesmo sem compartilhar com suas “crenças” ou seus “estados de espírito”. Só que agora isso está sendo quantificado no meio acadêmico e os resultados estão sugerindo um benefício positivo para as orações em favor dos pacientes. Mas isso não é o bastante. Os médicos, em geral, aceitam estudar a Espiritualidade porque a admitem como uma propriedade humana, semelhante a qualquer aspecto do caráter humano. A Doutrina Espírita com toda sua potencialidade para esclarecer a “natureza espiritual” do ser humano, ainda não foi admitida no meio médico, a não ser em uma ou outra Tese de doutorado que focaliza aspectos pontuais de interesse restrito. Para mim, pouco adianta falar de uma “Espiritualidade sem Espírito”. É o conhecimento do mundo dos Espíritos e suas relações com o mundo corpóreo que fará toda a diferença.
Numa terra como a brasileira e mais ainda a baiana, com tanta influência da religiosidade afro e a convivência mais direta com crenças espirituais, tem mais facilidade para que a Medicina aceite as idéias do Espiritismo.
Tive a oportunidade de estar algumas vezes na Bahia. Fica-se com a impressão dela estar por inteira mergulhada numa espiritualidade contagiante. Na Bahia não há o que fazer crê, o baiano acredita em tudo. Ele compartilha com você tudo que puder virar música ou devoção. Os dois mundos, o material e o espiritual, fazem parte do seu cotidiano, dos seus compromissos e das suas superstições. Sua pergunta está, portanto muito bem colocada. Essa convivência espiritual favorece a aceitação da Doutrina Espírita? A resposta é sim, mas, por se tratar da Bahia, é sim para todas as doutrinas, é aí que reside o problema. A Doutrina Espírita nos alerta para os excessos de aceitação, crendices e interferências anímicas. O Espiritismo tem os seus fundamentos, codificados por Allan Kardec, sugerindo aos seus adeptos muito critério na identificação do que é espiritual ou não.

Num nível básico, geral, que relações, influências, ligações acha entre ser neurocirurgião e espírita?
Como já lhe informei minha formação espírita inicou-se na infância. Desde minha adolescência freqüentei reuniões de desobsessão que na época eram franqueadas ao publico em geral. Visitava com meus pais o Sanatório Espírita (para doentes mentais) dirigido pelo Dr. Inácio Ferreira, psiquiatra com quem compartilhava ensinamentos espíritas. Com essa trajetória era de se supor que eu deveria me dedicar à Clínica Psiquiátrica. O curso da vida, entretanto, me levou a especializar-me em Neurocirurgia e curiosamente, meu primeiro professor nessa área, era muito interessado na neuropsicologia das doenças mentais. Os 30 anos de dedicação à Neurocirurgia me permitiram lidar com o cérebro de uma maneira mais desembaraçada, com mais segurança e compreendendo melhor o mecanismo das doenças mentais. Creio que pude acumular conhecimentos que me favorecem identificar a extensão do que é biológico, psicológico ou “espiritual” nos transtornos da mente.
O Sr. tem escrito muito sobre Metaneurologia, pode se falar que tem a ver com uma direta leitura espírita sobre o funcionamento do cérebro? Como é que chega a se formar essa disciplina?
Como reunir meu conhecimento espírita com minha formação neurológica? Existiria um ponto de contato entre esses dois modos de conhecer o ser humano? O que a neurologia ainda não explica, a Doutrina Espírita pode contribuir para explicar? Foi assim que me apropriei do termo Metaneurologia para reunir uma série de informações espíritas para esclarecer uma fenomenologia que a neurologia sozinha não consegue explicar adequadamente. Nesse conhecimento listei as seguintes proposições: existe em nós, um “corpo mental” que transmite nossos pensamentos, registra nossas sensações, acumula nossas memórias, transita livremente nas dimensões espirituais e modifica-se por interferência dos nossos pensamentos. Na existência desse “corpo mental” está a explicação para o comportamento das paralisias e das anestesias na histeria, das memórias extra - cerebrais confirmadas pela hipnose, das pseudo - alucinações das narcolepsias, dos sintomas nos “membros fantasmas”, dos “sonhos lúcidos”, das experiências de quase morte e das viagens astrais (out of body experience). Sugerí a Metaneurologia como campo de estudos para esse grupo de fenômenos.
Como eram, foram e são as formas de reagir da Neurologia ortodoxa com as formulações da Metaneurologia?
Meu artigo principal sobre o “Corpo Mental” foi recusado por uma revista tradicional de Neurologia. Mas, foi aceito e publicado numa Revista de Ciências Médicas de nossa Cidade. O recado foi dado, continuaremos estudando e persistindo.
O Sr acha que o progresso das Neurociências tem incidência na compreensão melhor dos fenômenos da espiritualidade e da cura espiritual? O é que se procura achar dispostas dentro das sinapses dos neurônios que não pode ser achada desse jeito?
Peço licença para repetir que as opiniões que aqui tenho expressado são frutos do meu entendimento, sem a pretensão de ser uma verdade, ou de representar a Doutrina Espírita. Realmente as Neurociências estão em franco progresso penetrando na intimidade de muitos processos ligados a fisiologia do cérebro. Estão estabelecidos os papeis dos neurônios em atividades complexas como a fala, a visão, a tomada de decisões, o planejamento de metas, as escolhas éticas, os talentos musicais e até mesmo nosso comportamento altruísta. A meu ver, toda essa interpretação parte de um princípio errado ao atribuir a uma parte do cérebro, aos neurônios ou a determinadas áreas cerebrais, uma atividade que é do ser humano, da sua pessoa, da sua Alma ou pelo menos da sua mente se preferir. Para mim a espiritualidade será mais facilmente revelada se estudarmos os fenômenos provocados pela “emancipação da Alma”. Por isso tenho insistido em iniciarmos pelo estudo do “corpo mental”. Poderíamos perguntar como conseguir a emancipação da Alma para estudo. Ora, toda gama de fenômeno mediúnico ocorre por estar a Alma emancipada do corpo. As experiências do sonambulismo provocado expõe uma enorme possibilidade de investigação. Não adianta procurarmos a Alma onde ela não se revela, no bisturi do cirurgião, nos “escaners” radiológicos ou na perturbação das sinapses.
A pergunta me permitirá abordar também, a questão da “cura espiritual”. Aprendi que a Misericórdia Divina colocará sempre, ao alcance da Medicina Humana a possibilidade da cura de nossas doenças. Meus 44 anos de Neurologia me permitiram constatar inúmeros progressos na nossa capacidade de curar. É de se supor que Deus nos possibilitará contar com tudo o que realmente estiver de acordo com nossas próprias necessidades. O que nunca poderemos nos livrar será dos débitos que teremos de resgatar. Ao iniciar-me na Neurologia, no início dos anos 60, chocava-me atender crianças vítimas da paralisia infantil. Meses de cama sem poderem levantar uma perna ou um braço ou a própria respiração. Presenciei, logo depois, a chegada da “gotinha” milagrosa que a vacina introduzia no organismo infantil. Passam-se os anos, as cidades modernas estão agora inundadas de motocicletas, são jovens que freqüentemente abusam da velocidade e vários deles acabam naquele mesmo leito da paralisia, sem poder se moverem e às vezes sem respirar. Ainda na Faculdade de Medicina conheci as aberrações da hidrocefalia. A mãe e a criança lutavam para manter o equilíbrio da mente. O excesso de líquido dentro da cabeça não permitia acumular qualquer aprendizado. Veio o progresso da técnica trazendo as válvulas de drenagem. A Criança está salva, mas não dos riscos da adolescência. A droga perigosa está presente nos ambientes escolares. E, recapitulando o aprendizado, mãe e filho tentam de novo manter o equilíbrio da mente. A cura só trará progresso efetivo se vier acompanhada de “iluminação” - O “conheça-te a ti mesmo” ainda é muito oportuno. A melhor forma de tratamento ainda é um código de conduta moral comprometida com a disposição de ajudar ao próximo. Nesse sentido, o Médico, no seu papel de terapeuta, não pode se acomodar apenas aconselhando, ele precisa dar o exemplo da sua respeitabilidade e disposição em fazer o bem.
Gostaria que o S. falasse das relações entre sonho, corpo mental, viagens astrais, sonhos mediúnicos, premonições, comunicações do alem no plano de sonho. Podem acontecer fenômenos desse tipo na hora de dormir?
Enquanto o corpo repousa no sono, a Alma tem oportunidade de se locomover mais ou menos livremente nas dimensões do plano espiritual. Essa liberdade não é total, está na dependência de diversos fatores, principalmente, da condição espiritual de cada um. A literatura leiga é muito rica em relatos dessas experiências que se revelam, por exemplo, pelos “sonhos lúcidos”. Precisamos aprender a distinguir nesses relatos a informação digna de crédito e a fantasia. Nas dimensões espirituais a Alma buscará sempre as mesmas pessoas e ambientes que comungam com ela os mesmos pensamentos e desejos. Ninguém alcança os planos superiores se não tem condições vibracionais para tanto. E’ preciso saber, também, que, a maioria de nós percorre as esferas espirituais com a mesma ignorância do selvagem colocado numa cidade grande. O medo e a falsa interpretação dessa realidade nova não são fáceis de superar. Alem disso, no retorno ao corpo físico, nossa fisiologia cerebral terá de absorver as informações espirituais dentro de um texto que a linguagem cerebral permite. Temos um computador cerebral com determinados programas e, os arquivos do corpo mental, “não rodam” com fidelidade nas “janelas” do cérebro físico. Daí a possibilidade do fantasioso, do deslumbramento ou da estranheza perturbando a nitidez das telas presenciadas na espiritualidade.
A doença pode ser entendida como oportunidade de se conhecer mais? Isso não modifica totalmente o paradigma científico?
Mais cedo ou mais tarde o paradigma da Ciência Médica da atualidade terá de mudar. Não estou a condená-lo. Apenas quero chamar a atenção para sua incompetência. Ele é reducionista e materialista. A Medicina com essa visão acanhada do ser humano só pode saber a causa da dor, mas, não terá alcance para esclarecer a causa do sofrimento. Vamos analisar, agora, as questões “espirituais”. A doença seria então um mal necessário? Acho essa afirmação falsa, nenhum mal é necessário. Porque então adoecemos? Porque uma criança inocente nasce com doenças tão graves? Devemos suportar com resignação uma doença que vai nos levar a morte? Abreviar a vida de um paciente doente não vai lhe aliviar o sofrimento? Porque uns suportam com resignação e outros com revolta? As doenças tem causas físicas, psicológicas e sociais, podemos supor que existam causas espirituais para o adoecer? Podemos encontrar, facilmente, as respostas a essas questões dentro do paradigma espírita - Somos seres imortais ocupando provisoriamente um corpo de carne. Após essa vida estaremos convivendo com outros Espíritos no mundo dos desencarnados que é nossa situação definitiva, mas não permanente, porque estaremos sujeitos a reencarnações sucessivas para seguirmos os desígnios de Deus que nos criou com o propósito de progredir indefinidamente. Somos livres para agir e nossa consciência será sempre nosso Juiz inflexível. Ao agir, seremos escravos das conseqüências dos nossos atos, e, sempre que prejudicarmos nosso semelhante estaremos irremediavelmente comprometidos em reparar esses danos. Em encarnações passadas, por conseqüência da nossa ignorância, já estivemos envolvidos em todas as mazelas humanos trazendo para os dias de hoje os sinais de doença no próprio corpo como mecanismo abençoado de regeneração. Já erguemos o braço para ferir e hoje a paralisia nos educa. Já usamos a fala para magoar e hoje a afasia nos humilha. Já usamos a mente para corromper e hoje a esquizofrenia nos confunde. Já usamos os olhos para acusar e hoje nossa cegueira implora um braço para nos guiar. Já usamos a força para impor e hoje a demência nos faz dependente de todos. Ameaçamos e amedrontamos no passado e sofremos com o pânico no presente. Perturbamos o corpo no vicio, no suicídio, no aborto, no homicídio e hoje arrastamos as encefalopatias infantis, as malformações do coração e as degenerações espinhais. Ontem exercemos o poder com mão de ferro exigindo obediência, nossa mesa era farta e convivíamos com o desperdício, dependíamos do álcool, do cigarro, do sexo pervertido, dos abusos alimentares, das drogas excitantes e hoje dependemos dos remédios da asma, do diabetes, da epilepsia, do Aslzheimer, da pressão alta e da caridade alheia nas mãos de enfermeiros e cuidadores assalariados. O Espírito está sempre na origem de todas as doenças. Um Espírito perturbado o corpo adoece. O corpo doente coloca o Espírito em prova. Espírito em prova é oportunidade de redenção.
"Tenho a convicção de que em poucas décadas a Ciência terá confirmado a reencarnação, a existência da Alma e a comunicação com os Espíritos. Mesmo assim ela permanecerá a mesma. Uma mudança verdadeira só aconteceria se a Ciência se comprometesse com princípios morais. Se aceitasse Jesus com a mesma convicção com que aceita Darwin ou Maxwell. Se sua neutralidade fosse substituída por responsabilidade".
Gostaria que o Sr contasse que reações teve de outros médicos com este tipo de afirmações como a que antecede.
Convém saber que de um modo geral a sociedade brasileira é extremamente aberta às diversas convicções religiosas. Não é raro termos pessoas freqüentando igrejas de orientações diferentes. Esse grau de liberdade não é criticado entre nós. As novelas da nossa Televisão freqüentemente abordam enredos com manifestações de Espíritos, histórias de reencarnações, telepatia, clarividência, premonições, com total liberdade e, convém anotar que usam de recursos técnicos primorosos, servindo de ilustração para diversos fenômenos espirituais que dessa forma se tornam compreensíveis para o público em geral. E, como afirmei, conhecer por conhecer, traz muito pouco de mudança interior. A transformação verdadeira está ligada a uma mudança de atitude que se conquista demoradamente. Não é diferente no meio médico que freqüento. Sabem das minhas convicções, respeitam, mas, não as adotam. Eles têm seus pontos de vista, agem de acordo com eles, nem por isso são melhores ou piores que eu.

Pode-se falar que mente e Espírito são sinônimos? O Espírito pode se explicar com os neurônios? É suficiente para o Sr. essa explicação.
Para as Neurociências a mente é um conjunto de propriedades características do ser humano. Ela inclui sua capacidade de pensar, de tomar decisões, de avaliar o sofrimento, de fazer cálculos, de comunicarmos com nossos semelhantes, de compreendermos a lógica, de reconhecer o mundo a nossa volta. Todas essas competências são habilidades criadas pelo próprio cérebro. Sem o cérebro não existiria a mente. Todas essas afirmações são descritivas das propriedades da mente, sem defini-la. Para mim, adoto a idéia de que a mente é sinônimo de Espírito e o cérebro o instrumento de sua manifestação. Todas essas competências da mente (da Alma) se processam através do cérebro, utiliza seus neurônios, mas é independente dele. Na primeira afirmação – de que a mente resulta da atividade cerebral – estaríamos obrigados a sermos o que o cérebro é. Todo nosso conhecimento, numa visão aristotélica, seria adquirido depois de sensibilizarmos o cérebro. Não haveria, assim, nenhum conhecimento inato. Atribuir ao neurônio uma propriedade que é da Alma, seria atribuir as partes uma atividade que é do todo. O que é filosoficamente errado. O Espírito se explica numa série de experimentos que revelam sua atuação extracerebral. Em todos os fenômenos da “emancipação da Alma”. A Doutrina Espírita tem um texto claro sobre esses fenômenos.
Recentemente escrevi um artigo sobre o que chamei de "Fenômenos Espírito-físicos" e, ali, fiz uma sugestão sobre a atividade dos corpúsculos de Nissl, hoje chamados retículo endoplasmático, na produção de proteínas que constroem portas de entradas nas membranas dos nossos neurônios. Pude sugerir que compete ao Espírito construir o padrão de neurônios que deseja ter.
Pode aprofundar os conceitos da afirmação anterior?
Vamos começar com Shakespeare (Prospero) “Nós somos feitos da mesma matéria que os sonhos”. Nosso cérebro é atingido continuamente por estímulos externos e internos. Quando reagimos estamos pondo em ação um turbilhão de combinações químicas nas sinapses entre milhões de neurônios envolvidos nessa reação. O contato de um neurotransmissor provoca mudanças no interior do núcleo dos neurônios. Saindo dos núcleos, um mensageiro químico leva uma receita de proteína que se fixa na membrana celular criando um novo ponto de contado, onde mais estímulos poderão ser decodificados. Um estimulo repetitivo acabará criando vários botões sinápticos ampliando a possibilidade de conexões desse neurônio com seus vizinhos. Para resumir, um neurônio estimulado intensamente e repetidamente, passa a elaborar receitas, a partir do seu núcleo que, ampliará, em três frentes, a capacidade do neurônio: aumento do número dos botões sinápticos, aumento da árvore (prolongamentos) sináptica e ampliação da rede de contato entre neurônios. Ao fazermos nossas escolhas – prefiro música clássica; ao tomarmos nossas decisões – prefiro continuar magoado; ao escolhermos nossos amigos – só aceito meus parente; ao dedicarmos a uma rotina de exercícios físicos – prefiro a vida sedentária; ao escolher uma leitura – um jornal sensacionalista, um livro de auto-ajuda; ao criticar um comportamento – meu chefe é prepotente; ao decidir pelo altruísmo – meu filho merece esse sacrifício, todas essas atitudes são recursos que fixam para sempre o tipo de neurônio que permanecerá vivo e atuante em nosso cérebro. A oportunidade de crescer espiritualmente não nos faltará, mas a escolha será sempre nossa.
Sou de opinião que uma das mais significativas contribuições científicas da Doutrina Espírita é a Teoria dos fluidos espirituais, que nos permitirá estabelecer uma nova concepção de toda fenomenologia física e espiritual que conhecemos.
Que alcance e aceitação tem hoje essa Idea? Esta só dentro do espiritismo?
A “Teoria dos Fluidos Espirituais” ainda não é aceita pelo meio acadêmico conservador se considerarmos a versão que a Doutrina Espírita oferece. Se usarmos o termo, que me parece mais acanhado, de “bioenergia”, creio que encontraremos investigação científica séria. Quero aproveitar a pergunta para esclarecer o conteúdo da afirmação que você destacou. Há uma série de situações que a Ciência humana testemunha sem conseguir explicar ou até mesmo admitir. Por exemplo, as cirurgias espirituais sem assepsia, a cura pelas mãos, o transporte de objetos de um ponto ao outro vencendo obstáculos materiais, as aparições, as comunicações com os desencarnados, hoje registrada em mídias, o aparecimento de doenças tidas como psicossomáticas, entre muitas outras que a meu ver são produzidas pela presença desse “Fluido espiritual”, que modifica as propriedades da matéria corrompendo as leis da física que conhecemos. O fenômeno mediúnico é um automatismo cerebral complexo, que ocorre com a participação em parceria de uma consciência encarnada, o médium e um Espírito comunicante.
Pode explicar mais estas idéias?
Um Espírito desencarnado que pretenda se manifestar em nosso mundo terá sempre de contar com a participação de um médium que lhe cederá os “fluidos humanos” necessários a esse processo. Sejam nos fenômenos de efeitos físicos ou intelectuais, essa dualidade é fundamental. A história da Humanidade em todas as civilizações registra a presença destas comunicações. Estão aí os Livros sagradas de diversas religiões para confirmar. No entanto, foi com Allan Kardec, no Livro dos Médiuns, que recebemos da espiritualidade um esclarecimento direto do processo pelo qual essa comunicação espiritual ocorre. Está escrito que as comunicações mediúnicas ocorrem “através do cérebro dos médiuns”. Foi, por isso, que estudando a Neurologia, assumi o desafio de compreender neurológicamente a mediunidade. O que propus só tem valor provisório, até que alguém mais experiente possa nos corrigir ou a espiritualidade nos fornecer subsídios para uma melhor compreensão. Considerando as características da escrita mediúnica, pela sua rapidez, escrita as vezes na total escuridão, abordando temas sem preparo prévio, creio que ela se parece muito com nossos atos automáticos, que se processam nos núcleos centrais do cérebro. Foi essa combinação que apontei nas minhas descrições. Enquanto o Espírito que se comunica se utiliza dos Núcleos do automatismo motor, o médium tem livre o seu córtex cerebral que lhe permite interferir ou não na mensagem. Por isso o processo é de parceria, sempre.
Da minha parte, procurei dar um enfoque mais neurológico, envolvendo os núcleos da base nos automatismos psicomotores, podemos compreender a fisiologia que impulsiona a mão do médium na psicografia e a fala mediúnica. Atualmente, os estudiosos do cérebro estão dando cada vez mais destaque aos neurônios em espelho. Com eles, nós sintonizamos as atitudes dos outros, nos permitindo "sentirmos no lugar do outro"
Isso quer dizer que todos podemos ser médiuns e nos curar ou curar a outros? O que é que faz que nós tenhamos este conhecimento intuitivo como algo cotidiano?
A mediunidade é uma capacidade inerente a todos os seres humanos. O seu grau de expressão é que varia de uma para outra pessoa. Alguns têm uma mediunidade ostensiva, outros apenas a intuitiva. A modalidade de fenômeno também é variável. Alguns se prestam para a cura, outros para a fala, a escrita ou a vidência. O Homem do futuro saberá conquistar e disciplinar esses recursos assim como aprendemos a disciplinar e controlar as forças da Natureza. Em nosso país (Brasil), temos milhares de Centros Espíritas que organizam suas “escolas de Médiuns” procurando instruir e preparar seus freqüentadores para as práticas mediúnicas. Essas atividades são isentas de proselitismos, de qualquer liturgia, de evocações ostensivas e exigem estudo aprofundado das obras de Allan Kardec. Toda doença, de qualquer natureza, tem sempre uma motivação espiritual. Tenho procurado divulgar aos interessados uma classificação didática das "doenças espirituais

Pode o Sr indicar quais são essas classificações?

Sabendo que sou Médico espírita, sou questionado freqüentemente pelos meus pacientes se seu problema é ou não de origem espiritual. Quando vão ao centro espírita, esses mesmos pacientes ouvem dizer pelo menos dois diagnósticos: ou eles são vítimas de obsessão ou tem uma mediunidade que precisam desenvolver. Ao iniciar meus estudos médicos ainda era atormentado por esse dilema: uma determinada doença é de causa física ou espiritual. A experiência e o contato com instrutores e médiuns de confiança me convenceram de que todas as doenças têm causa ou motivação espiritual. Mas, seria sempre uma obsessão ou seria um prenuncio da mediunidade como fazem crê alguns? Ao longo dos anos elaborei uma classificação com interesse didático para conhecermos melhor a relação entre as doenças e a espiritualidade. Em primeiro lugar, preciso esclarecer do ponto de vista médico, cada grupo de doenças obedece a determinados princípios. É assim que temos doenças infecciosas baseadas na presença de um germe patológico, as doenças vasculares baseadas nos distúrbios circulatórios, as doenças genéticas fundamentadas nas alterações cromossômicas e assim por diante. Como então seria fundamentada a doença espiritual? Isso é importantíssimo saber. Vamos apontar esses fundamentos: somos uma Alma imortal, ocupando um corpo carnal provisório, e estamos destinados a reencarnar sucessivas vezes para através das experiências de vida progredir ininterruptamente. Possuímos um “corpo espiritua”l (perispírito) que serve de intermediário entre esse mundo e o mundo espiritual. Esse perispírito é extremamente sensível às vibrações do nosso pensamento. Estamos todos mergulhados em um “fluido espiritual” e, através dele, transmitimos nosso pensamento e são produzidos todos os fenômenos mediúnicos. Nossa atividade mental, repercutindo suas vibrações nesse fluido espiritual, constrói uma coleção de “imagens mentais” em torno de nós mesmos, ambiente comumente chamado de “psicosfera”, que pelo seu conteúdo identifica claramente o teor de desejos e intenções que caracteriza cada um de nós em particular. Como criaturas espirituais, nosso mundo verdadeiro é o mundo espiritual, onde, uma imensidão de Espíritos convive em intensa e variada atividade, podendo de múltiplas maneiras interferirem em nossas vidas e principalmente em nossos pensamentos. Agora podemos expor nossa classificação: Para simplificar vamos abordar os dois grupos principais: as doenças “auto-induzidas” e as “compartilhadas”. As primeiras são produzidas por nós mesmos e as compartilhadas incluem a presença de “entidades espirituais desencarnadas”. As auto-induzidas são decorrentes das nossas imprevidências. Apontamos nelas outros dois subgrupos: o “desequilíbrio vibratório” e a “auto-obsessão”. O perispírito ajusta-se ao nosso corpo por um mecanismo de sintonia vibratória extremamente sensível a vibração mental. Portanto, cultivar pensamentos de ódio, ressentimento, inveja, ociosidade, vícios e desvios de conduta, altera a “sintonia” entre esses dois corpos. Penso que esse quadro justifica uma série de sintomas do nosso cotidiano: fadiga crônica indisposição, insônia, dores musculares, irritabilidade. A Auto–obsessão decorre da projeção de imagens mentais que criamos em torno de nós como se fossem entidades reais a nos atormentar. Elas resultam de desejos persistentes, freqüentemente irresponsáveis, com forte conteúdo erótico, de idéias fixas, da vontade de possuir o que nem sempre nos é de direito, da inveja e do ódio a pessoas não menos necessitadas do que nós de perdão e compreensão. Amar ou odiar significa compor um mundo mental em torno de nós aonde vai se apresentar paisagens luminosas do amor ou cenários tenebrosos onde transitam as imagens de quem odiamos. As doenças espirituais compartilhadas são, também, de dois subgrupos: o “vampirismo” e as “obsessões”. O termo vampirismo choca à primeira vista, mas, é muito adequado para indicar que estamos sendo “sugados” em nossas energias espirituais. Convém lembrar as palavras de Paulo, o Apóstolo, quando escreveu aos Hebreus: ”vivemos com uma nuvem de testemunhas”. Literalmente, estamos em constante convivência com uma multidão de Espíritos que nossa vibração atrai. Na prática do bem, seremos assistidos por bons Espíritos. Desviando nossos pensamentos e nossos comportamentos para vícios de qualquer natureza – álcool, sexo, drogas, abusos alimentares, adultério, atrairemos a companhia de “Espíritos comparsas” que passam a desfrutar conosco os pensamentos, as idéias fluídicas e as emanações da química de qualquer vício que alimenta nossa dependência. Podemos passar anos, as vezes uma vida inteira e, até mesmo, após a desencarnação, vampirizados pela presença dessas entidades que compartilham conosco os mesmos desejos, as mesmas vinganças, as mesmas desilusões e os mesmos vícios. A obsessão já é muito conhecida. São entidades espirituais que nos acompanham por milênios exigindo regate de contas ou tentando nos impingir os mesmos prejuízos que lhes causamos no passado. Não se trata, freqüentemente, de um só obsessor, nossas múltiplas encarnações arrastaram conosco muita gente com quem compartilhamos as desditas da vida. Não podemos atribuir ao obsessor a persistência das nossas doenças. O mais culpado nessa perturbação social, freqüentemente, somos nós mesmos. Foi pela imprevidência, pela traição, pelas promessas não cumpridas, pelo abandono, pelo crime, pelo falso testemunho, pelo adultério, pelo aborto ou pela escravidão que entrelaçamos o nosso destino com o daqueles que perturbamos. Preciso aproveitar a pergunta para falar sobre o tratamento da doença espiritual. Os nossos Centros Espíritas estão abarrotados de gente que pensa poder transferir para os Espíritos as necessidades que eles tem de se modificarem. O Centro Espírita é uma Casa de estudo, de esclarecimento, de orientação, o dever a cumprir é obrigação nossa. O propósito do Espiritismo não é competir com a Medicina. Em primeiro lugar, precisamos reeducar o Espírito, com o trabalho digno, o estudo edificante buscando o crescimento interior. É um processo que pode ter longa duração e ninguém o fará por nós. Quanto à obsessão, a Justiça Divina pode não ter pressa, mas será inflexível. Os quadros se arrastam por milênios, até que haja o resgate de todo o débito. É por isso que vítima e algoz imploram, freqüentemente, pela aproximação com a bênção do esquecimento. É a reencarnação que coloca no mesmo lar, debaixo do mesmo teto, a filha difícil, o filho rebelde, a esposa leviana, o marido irresponsável, o irmão perdulário, gerando tormentos, produzindo lágrimas, dilapidando a Alma até que a luz do perdão traga uma solução definitiva. Convém anotar que Chico Xavier nos ensinou que quando a Misericórdia Divina nos surpreende fazendo o bem aos outros, a conta dos nossos débitos é adiada indefinidamente.
Pode contar com detalhes que tem acontecido em geral com pacientes que foram para as leituras do Evangelho? Tem estudado os efeitos posteriores na saúde dessas pessoas? Alem da leitura, você trabalha com médiuns para procurar curas a doenças serias?
Agimos com muito cuidado para que todos percebam que o Instituto do Cérebro é um consultório médico espírita e não um santuário de curas milagrosas. Ensinamos a leitura do Evangelho com destaque para a prática da caridade. As questões espirituais são abordadas sem proselitismo, sem ferir suscetibilidades, sem exposição pessoal desnecessária. Encaminhamos os interessados para Centros Espíritas que tem programa de estudos, de desenvolvimento mediúnico e trabalhos de desobsessao.

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